A Revolução dos Cocos - Um exemplo de insurreição ecológica
maio 14, 2020
Boungainville. Uma Ilha no Oceano Pacífico, a maior das
ilhas que forma o arquipélago das Ilhas de Salomão. Tem 9 300 km² de
território e contava com 234.280 habitantes em 2011.
O primeiro contato europeu com a ilha foi em
1768 com o explorador francês que deu seu nome atual. Já foi território da
Alemanha, da Austrália, rapidamente do Japão, de novo da Austrália e por último
da Papua Nova Guiné. O referendo sobre sua Independência só aconteceu em 11 de
dezembro do ano passado e eles ainda estão no processo de formalizar a mais
nova nação do planeta Terra, o centésimo nonagésimo quarto país.
O processo de Independência
é muito caro ao povo de Boungainville. É um dos motivos da guerra civil que
durou de 1989 a 1997. Mas o que deu
início à Revolução dos Cocos foi a necessidade de proteger a Terra e seu povo de
uma multinacional britânica. A mineradora Rio Tinto Zinc contruiu no centro da
ilha uma mina de cobre de cerca de 7 km2, destruindo toda a floresta que ali
habitava e um grande monte querido pelos ilhéus. Contaminou o rio próximo de
uma maneira que todos os peixes e formas de vida dali morreram.
É uma reação a essa
violência que surgiu o Exército Revolucionário de Boungainville. Começaram
sabotando a mineradora e parando suas atividades. O governo de Papua Nova Guiné
reagiu enviando seu exército e o povo de Bounganville, mesmo com muitas percas,
conseguiu reagir com armas feitas artesanalmente. Foram flechas contra
helicópteros armados. Eles conseguiram reagir ao ponto que a Papua Nova Guiné e
a Austrália, que também estava financiando a guerra, imporam um bloqueio
marítimo. Cerca de 10 % da população morreu nessa época, em torno de 15 mil
pessoas.
No documentário produzido
pela National Geographic vimos um povo criativo usando a própria Terra para
defendê-la. Eles inventaram práticas autônomas de economia e medicina. Criaram
auto suficiência alimentícia com hortas e outros cultivos, desenvolveram cura
para malária, lepra, apendicite, câncer, sem fazer operações, além de
contraceptivos naturais. Francis Ona, um grande e humilde líder, chega a
agradecer pelo bloqueio marítimo. Isso possibilitou que eles desenvolvessem as técnicas de cura através de ervas e todo o desenvolvimento para
aquele lugar. Tudo o que eles tinham era os resíduos da mina, inclusive alguns
carros abandonados, e a natureza. Eles criaram combustível para esses carros, conseguiram
energia elétrica e todo o necessário para viver confortavelmente. Porque será
que seu movimento ficou conhecido como revolução dos cocos?
Algumas coisas mudaram
bastante depois da realização do documentário em 2001, hoje por exemplo, Boungainville
abriga povos de ilhas vizinhas que estão sendo submergidas pelo mar, com o
aumento do nível dos oceanos provocado pelo aquecimento global. A vida continua
desafiadora.
Boungainville inspira. O
seu grande respeito à natureza, a preocupação com as futuras gerações, a alegria,
criatividade, a conexão com a ancestralidade, o equilíbrio entre luta e fé num
futuro melhor.
Com esse pequeno documentário
legendado temos acesso à força de um povo simples que não se esqueceu que é
filho da Terra.
Postado por Lucas O. Rosário
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