Planeta Selvagem - A Distopia Atemporal de René Laloux

maio 08, 2020




Nessa história os humanos não habitam mais o extinto planeta Terra e sim o planeta Yagam onde são chamados de Oms, escravos (ou animais de estimação) dos Draggs, uma raça de gigantes com mais de dez metros de altura, olhos vermelhos e pele azul que vivem uma civilização "avançada", com um desenvolvimento tecnológico e espiritual grande, mas não necessariamente são bondosos e tolerantes, nem mesmo felizes.

A história acompanha a vida do bebê órfão chamado Terr, pego pela menina Draag Tiwa para ser domesticado. Ela trata Terr como um boneco, veste roupas engraçadas e o coloca pra brigar com outros Oms.

Tiwa absorve telepaticamente as lições escolares através de um dispositivo aural colocado em sua cabeça e permite que Terr participe e partilhe dos conhecimentos. Todo o conhecimento absorvido pelo jovem humano só o faz ficar cada vez mais ressentido pelo tratamento que os Draags lhe dispensam, como um animal doméstico preso em uma gaiola. Ele até usa uma coleira conectado a um controle acoplado no pulso da Tiwa, que o pode arrastar pra lá e pra cá.  

Terr finalmente consegue escapar e fugir para além do território da cidade Draag levando com ele o dispositivo de aprendizagem telepática de Tiwa. Ele encontra uma tribo de Oms livres e selvagens em um mundo repleto de seres bizarros e perigosos. Ao mesmo tempo os Draags estão cada vez mais preocupados com a proliferação dos Oms, que se reproduzem muito mais rápido (1 dia draag é muito mais tempo na vida Om)  e planejam um grande genocídio por meio de pesticidas – o desejo de muitos Draags de livrar o planeta da praga Om. Mas o conhecimento adquirido por Terr e levado até os Oms selvagens trará a salvação para a comunidade.



Planeta Selvagem, título original substituído na versão estadunidense por Planeta Fantástico, tem uma beleza surrealista que a mantém sempre atual. Em alguns momentos nos sentimos em um quadro de Salvador Dalí. Com uma técnica simples de stop motion em 2D é uma animação para adultos que reflete o contexto de guerra da época: No planeta Yagam damos de cara com a dominação dos Draags sobre os Oms.
As alegorias e referências do filme não são tão fáceis possibilitando conversar com outros cenários para além da guerra fria, da corrida armamentista da década de 70, até porque o impulso de guerra insiste sendo uma inclinação humana, como mostra Laloux no curta Os Tempos Mortos.

Por mais que existam humanos nos filmes nos identificamos mais com a espécie dominadora dos gigantes e meditadores Draags.  Há muitos paralelos: a exploração e genocídio dos animais, a indiferença generalizada ao que é diferente, ao outro, a insensibilidade à outras culturas consideradas inferiores como a das nações indígenas e outros povos autóctones.  

Como explana o biólogo Humberto Maturana em seu livro Emoções e Linguagem na Educação e na Política, a completa aceitação do outro é fundamento primordial da sociedade em todas as espécies. Aceitar o diferente com amor e respeito é muito simples. É da natureza que funciona em relações de colaboração. 
E vimos isso no final de Planeta Selvagem. A competição cede lugar a um acordo de paz, uma simbiose surpreendente entre Oms e Draags.





confira aqui o registro da live sobre Planeta Selvagem realizada no dia 05 de maio de 2020.


Postado por Lucas O. Rosário

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